23 de dez. de 2016

Lições de Motim, Dona Cotinha

"Viver sozinho vicia. Chega uma hora que gente incomoda. Dá uma espécie de gastura, e é essa gastura o primeiro passo para a solidão. É claro, só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta de solidão não é um solitário, é só um desacompanhado.

(Elizabethtown, Orlando Bloom e Kirsten Dunst)

Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem que ser valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário não. É preciso ter competência pra isso. Pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não inquilinos. Quem é inquilino da solidão, não passa de um abandonado. Não é que eu não goste de gente, eu não suporto é ser usuário, o que é bem diferente. Minha solidão tem um nome: renúncia.
Eu renunciei ao gênero humano. É simples e só. Perdi a crença nas pessoas. O certo é que eu sou um descreste de gente, só isso. Tirei as pessoas da minha vida, como tirei o açúcar de minha diabete. Minha solidão é medicinal."
Dona Cotinha na peça Lições de Motim

18 de dez. de 2016

Pessoas Vazias E Peculiares

Sempre quando penso no vazio, tanto no meu próprio quanto no das outras pessoas e até nas idealizações de ser uma pessoa vazia.  Nessa hora a nossa mente começa a listar infinitamente coisas negativas e ruins. Porém, acho que uma pessoa vazia tem um dom, você já parou para conversar com alguém assim?
A pessoa não tem amigos, nem família nem um amor para dá um presente ou um abraço. Não, a pessoa vazia é solitária, ninguém quer estar perto, só usam e depois esquecem e nem cumprimentam na rua. E aí a sua mente com TOC imagina Leatherface cortando as pessoas na rua.
A pessoa vazia não tem agenda, não tem nada marcado, com quem? O que?
Mas alguém desse jeito, ainda assim, é a melhor pessoa do mundo, já parou para pensar? Não, você só pensa em você e nas convenções sociais que ditam o que é certo e errado, e você ainda acredita!
Enfim, pessoas vazias, por não terem nada nem serem nada, são as melhores, elas não têm ninguém esperando, logo, lhe darão atenção, ouvidos, serão seu ombro-amigo, pois não há o que perder, elas estarão lá para quando precisarem, pois não estão ocupadas, já que não têm nada. Estas serão aquelas pessoas que terminarão o trabalho mais rápido e bem feito, pois não tinham com o que se distraírem, são aquelas que devoram livros e séries rapidamente, estão em casa no final de semana inteiro, estão sozinhas em um banco na praça ou caminhando na praia.
Não que elas sejam vazias, apenas não têm ninguém, então sentem-se assim, mesmo com o monólogo interior debatendo as ideias numa dialética rebuscada, a pessoa se sente vazia mesmo tendo a mente bem barulhenta e inquieta, não é o vazio sonoro, é o vazio presencial, a pessoal é peculiar demais para não se encaixar em grupos, e, levando em consideração, o nosso tempo, o egoísmo lá em cima e a violência, o culto capitalista pelo lucro, posse e exibição, não somos mais tão humanos, as pessoas vazias são, elas sentem e sabem, por isso hesitam tanto, mas acabam sendo a melhor pessoa para se ter uma conversa profunda, sobre história, mitologias, filosofia, artes, música, ciência, tecnologia, ficção, livros e tantas outras coisas, pois ela tem tempo e alma para essas coisas, já que são presencialmente vazias, mas são ricas em conhecimento. Darão o afago mais valoroso, o olhar mais verdadeiro, o abraço mais quente, o elogio mais voluptuoso e o sorriso tímido mais encantador. Podem confiar segredos a ela, pois não há a quem revelar, e ainda ela sentirá aceita. E os sofrimentos que passou, tanto a educou como ela trata muito bem as outras pessoas para que estas não sofram o quanto elas sofreram(sofrem).
Os olhos são lindos quando se tiram os óculos para vê-los mais de perto e profundamente. Pessoas vazias são cheias, têm um universo só seu.

16 de dez. de 2016

Meu Esconderijo

Essa canção é, certamente, o meu hino do aconchego(risos), do cansaço da semana, dos tocos que levo da vida, da carência eterna, é a minha companheira das solidões, das madrugadas. A voz de Ana é algo que me faz sentir melhor, me acalma, mesmo quando conheci essa música, estava aos prantos, e a voz dela me fez cafuné.
No clipe ela está solitária em uma sala, rodopiando sozinha, se deitando no chão olhando o vazio e pensando no infinito, me identifico ao máximo.
Nos meus dias de tormenta, quando chove lá fora e aqui dentro, me recolho no meu canto, no escuro do meu quarto no chão gélido, ouço essa música e me perco, sou muito sensitivo, então, sinto a minha aura, os cantos recônditos da mente, entro em contato com meu Eu interior. E isso me preenche.


"Procuro a solidão
Como ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão
Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Com a arte do seu jeito
E tudo faz sentido
Calma, pra contar nos dedos
Beijo, pra ficar aqui
Teto para desabar
Você, para construir
Dundarundê aunde iê"
(Ana Cañas)

E o teto desabando, são as minhas crises, meus medos, meu mundo e o mundo, ambos se desintegrando sobre mim, desabando, eu encaro meu mundo aberto, "sem paliativos" - Letícia Sabatella, não me escondo da minha personalidade, sou tanto os momentos de Euforia quanto os de Baixa, eu os vivo! Isso me eleva em autoconhecimento ciclicamente.
Sou solitário, mas tenho a mim, não tenho amigos, meu cachorro, Lepi, partiu recentemente, sou distante da minha família por ser diferente, minhas amizades são as coisas que reúno na existência, livros, múcicas, filmes etc, e que, quando preciso, estão lá para me acolher mais uma vez.
E por fim, quem sabe encontrar alguém para construir quando meu teto desabar e que me permita o mesmo.

11 de dez. de 2016

Gelo-amigo

Chega um tempo em que tudo sufoca, e você percebe no final do ano ouvindo aquela canção natalina "então é natal, e o que você fez? O ano termina e nasce outra vez", arghh, parece um vômito musicado.
Durante muito tempo tive muitos amigos, apesar de ser uma pessoa muito quieta, as pessoas se sentem bem ao meu redor, alguém que elas podem confiar, até mesmo eu duvidando disso, já vi amigo chorar no meu ombro contando que a namorada tinha terminado, já aturei amigo bêbado divorciado, eu sempre lá, ajudando, dando conselhos, várias garotas já me usaram como ombro amigo, aquela pessoa que está sempre lá para os "ditos" amigos, não por obrigação, mas por ser uma pessoa boa, que gosta de agradar, de ouvir os problemas das outras pessoas, não é à toa que sou(na verdade, era) o psicólogo dos amigos e conhecidos e até de desconhecidos, aparece gente que não me conhece, até bem mais velha que eu pedindo alguém, alguma companhia.
E todas essas pessoas, sem exceção, se foram rapidamente ou com mais tempo, não importa o vínculo criado, mas foram, só me usaram, só se lembram de mim quando precisam. Eu cansei disso, não sobrou ninguém, nenhuma pessoa, e quando elas vêm novamente me contar seus problemas, eu não me importo mais, me distanciei das pessoas, vivo minha vida solitariamente cheia de livros, games, animes, HQs e Netflix. As pessoas com quem mais converso são aquelas dos caixas, para compras, contas e afins. Não estou mais lá para ouvi-las, me sinto usado, abusado, decidi me valorizar, equilibrar.
A ingratidão dos seres humanos é tão grande, imensa, que ao virem até mim, ainda me tacham de frio, distante, fechado. É a mesma coisa que acusar um inocente baleado à queima-roupa de ter levado o tiro, mas não vivemos na Matrix, tampouco somos escolhidos, ou os escolhidos, como dizem livretos dos contos da carochinha, bando de babacas!
Assim como na guerra existe o fogo-amigo, que é quando o soldado atira em seus próprios companheiros, defino como gelo-amigo essa condição de "amizade", dizem que, assim sendo, somos pessoas frias e/ou antissociais, mas na verdade somos as mais quentes, no fundo, como um vulcão adormecido, elas que são pessoas frias com corações de gelo, nos trataram como seres postiços, mas ser assim meio ingênuo e bonzinho, meu verdadeiro eu, sempre de prontidão para ajudar. Evitar ter contatos por isso, para ajudar, mesmo sozinho, sem esperar agradecimentos e sem querer ter amigos novamente, e se for o caso, ser bom e ajudar só por si, apenas, para se sentir bem, mas não permitir que pisem na nossa calçada pedindo abrigo em um dia de chuva para depois sumir na primeira trégua que a tempestade dá.

8 de dez. de 2016

Madrugada melancólica

Aquele momento fatídico da madrugada que vem as deprês, os lamentos, as saudades, as nostalgias tudo de uma vez em um uma torrente, e você abre a geladeira e não tem uma gota de álcool, nada de útil para acompanhar umas músicas melancólicas de Adriana Calcanhotto.
O único jeito é desligar tudo, pegar um caderno, um lápis, uma vela e um copo de café com leite, sentar-se em um chão frio recostado na parede e ver se sai alguma coisa ou se ficará apenas rabiscando sentado até sabe-se lá que horas, ou até mesmo não fazendo absolutamente nada, só admirando a pequena chama e pensando ou tentando fugir dos pensamentos.
Várias indecisões que se alteram, e a cada segundo, a cada troca de pensamento são como cortes pungidos com lâminas nostálgicas em nossa alma, sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Só "aproveitando" no seu cantinho solitário a vida que tem, sem mais nem menos, só a própria existência pura do jeito que ela é, e, às vezes, lágrimas lhe acompanhando.
E tudo parece desabar em nós, como se só não caímos por causa do chão, que nos mantém e nos segura, enquanto nossos problemas e o peso de existir nos esmaga para baixo, mas o chão nos segura e acabamos sendo exprimidos, só esperar que no outro dia acordemos fingindo que nada aconteceu ou que a multipolaridade faça-nos acordar bem, ainda que temporariamente. Esperando ou não se importando com o tempo quando tudo cairá em cima novamente nos tornando seres pesados e, talvez, mais sozinhos.

Carência Ingênua (a cíclica e efêmera)

É “interessante” estar carente, sentir saudade de alguém que na maioria das vezes não sabemos quem é ou que não podemos ter, ficamos humildes, rimos por besteiras, temos mais empatia pelas pessoas, pois achamos que para sermos merecedores de alguém, precisamos fazer o mesmo pelos outros, é um estado bom, sereno, a tristeza acompanha, junto com ela a dor, mas são coisas que nos preenche, e por alguma razão justa, eu acho, ficamos com sorrisos tímidos durante o dia, mas à noite baixamos a guarda e choramos ou não, colocamos uma música meio triste acompanhada de violão e/ou piano, dançamos sozinhos no quarto.                          
"Você parte a esmo / No rio da memória... /
Pouco a pouco eu o recupero/ Um pouco de terra perdida." (La Noyée - Serge Gainsburg)

Vemos casais pelas ruas, na TV, tudo parece tão perfeito, por que isso não acontece com algumas pessoas? Essa solidão eterna... Somos observadores. Pensamos, escrevemos um poema ou textos desconexos.
Parece algo ruim, mas por algum motivo, alguma razão escondida, isso tudo nos torna seres humanos mais humanos, simples, amantes da vida, relembrar os amigos.
Estar carente é bom, embora haja esse humor baixo, mas sempre que sorrimos estamos sendo verdadeiros, é espontâneo, procuramos nos corrigir, sermos melhores.
E quando sorrimos, extrapolamos, sim, é perceptível, nos define, nos faz olhar para dentro de nós mesmos, de sorrirmos apesar dos defeitos, de acharmos coisas boas para ocupar o vazio que há dentro, mas preenchemos bem, com bastante comida, séries, animes, visitar os amigos, se tiver algum, contar bobeiras para os familiares ou imaginar contando, afinal, estamos com a guarda baixa, somos potencialmente verdadeiros, pois pensamos em escamotear o que sentimos ou temos, tudo em nome da humildade humana que se encontra dentro de nós.
Carência é necessidade. Mas prefiro chamar de oportunidade, é um momento de baixarmos os muros, fazer aquela faxina na nossa vida, é tempo de se renovar, de aproveitar as coisas boas de dentro que se perderam com o tempo, deletar as ruins, reciclar-se, se reconstruir para os outros momentos e pessoas que, talvez, virão. (05/05/2015, 02:58)